A fissura labiopalatina é uma malformação congênita que requer tratamento multidisciplinar, incluindo cirurgiões-dentistas, desde o nascimento até a fase adulta. O tratamento visa prevenir e corrigir anomalias dentárias, considerando fatores genéticos e ambientais. A condição é classificada em tipos como pré-forame, transforame e pós-forame incisivo, e a odontopediatria é fundamental para a saúde bucal desde cedo, garantindo resultados funcionais e estéticos que melhoram a qualidade de vida do paciente.
A fissura labiopalatina é uma das malformações congênitas mais comuns na face humana. O tratamento envolve uma equipe multidisciplinar, incluindo o cirurgião-dentista, que desempenha um papel crucial no cuidado ortodôntico e nas manifestações associadas ao longo do tempo. Neste artigo, discutiremos a importância da odontologia no tratamento desses pacientes e o que os dentistas precisam saber.
Como ocorre a fissura labiopalatina?
A fissura labiopalatina é um dos defeitos congênitos mais comuns na face, afetando principalmente a população amarela, com uma incidência de 1 a cada 600 nascimentos. Em contrapartida, a menor incidência ocorre entre pessoas negras, com uma proporção de 1 para 1.100. Apesar de não comprometer, na maioria dos casos, a cognição, essa deformidade pode estar associada a cerca de 100 síndromes, como a síndrome de Down.
Conforme o artigo “O papel do cirurgião-dentista na abordagem do paciente com fissura labiopalatina”, durante o desenvolvimento fetal, partes do rosto crescem separadamente e se fundem posteriormente. Contudo, distúrbios nesse processo podem resultar em má formação e fendas.
Assim, a fusão entre maxilar e saliências nasais mediais ou processos palatinos pode gerar diferentes tipos de fissuras, que ocorrem de forma unilateral ou bilateral. Essas fissuras podem ser isoladas, simultâneas ou combinadas com outras malformações, resultando em variados graus de severidade no paciente fissurado.
Etiopatogenia da fissura labiopalatina
A etiopatogenia da fissura labiopalatina envolve uma combinação de fatores genéticos, ambientais e múltiplos. Esses fatores são cruciais para entender como essa anomalia se desenvolve e quais são suas causas principais.
Fatores genéticos
Os fatores genéticos desempenham um papel significativo no surgimento da fissura. O histórico familiar do paciente é um indicador importante. Por exemplo, a probabilidade de um filho ter a fissura aumenta se um dos pais ou um irmão já tiver a condição. As porcentagens variam: se nenhum dos pais possui a fissura, a chance é de 0,1%; se um dos pais tem, a chance sobe para 2%; se ambos os pais não têm, mas um filho já apresentou, a probabilidade é de 4,5%; e se um dos pais e um filho têm a fissura, a chance chega a 15%.
Fatores ambientais
Os fatores ambientais incluem doenças infecciosas, distúrbios nutricionais e exposição a substâncias como fármacos e drogas. Infecções como sífilis, rubéola e toxoplasmose, além de distúrbios endócrinos e nutricionais, podem contribuir para o desenvolvimento da fissura. A estrutura genética da mãe, especialmente em relação à ingestão e processamento de ácido fólico, é crucial durante os primeiros meses de gestação.
Além disso, o uso de fármacos, álcool, cigarro e exposição a químicos industriais e agrícolas são fatores que podem influenciar o desenvolvimento da fissura. A idade avançada dos pais também pode ser um fator de risco.
Classificação das fissuras
A classificação das fissuras labiopalatais é baseada na literatura de Spina (1972) e divide-se em três grupos principais: fissuras pré-forame incisivo, transforame incisivo e pós-forame incisivo. Cada grupo possui características distintas que afetam o tratamento e a abordagem clínica.
Fissuras pré-forame
As fissuras pré-forame incluem fissuras labiais que podem ser unilaterais (em um lado), bilaterais (em dois lados) ou medianas (no meio). Essas fissuras limitam-se ao palato primário, afetando o lábio e/ou o rebordo alveolar sem ultrapassar o forame incisivo. Visualmente, apresentam-se como um corte discreto no vermelhão do lábio superior.
Fissuras transforame incisivo
Este grupo é caracterizado por fissuras de maior gravidade, afetando tanto o palato primário quanto o secundário. Elas podem ser unilaterais ou bilaterais, atingindo o lábio, a arcada alveolar e o palato, resultando em uma deformidade mais complexa.
Fissuras pós-forame incisivo
As fissuras pós-forame são geralmente medianas e localizam-se na úvula ou em outras partes do palato mole e duro. Neste caso, os lábios e dentes permanecem intactos, mas a fissura afeta a parte posterior da cavidade oral.
Fissura labiopalatina: tratamento multidisciplinar
O tratamento da fissura labiopalatina é complexo e requer uma abordagem multidisciplinar, dividida em etapas pré-cirúrgica, cirúrgica e pós-cirúrgica. Este tratamento visa garantir o melhor resultado funcional e estético para o paciente.
1ª semana ao 3º mês de vida: A família recebe informações e suporte psicológico. A equipe multidisciplinar, que inclui pediatras, fonoaudiólogos e odontopediatras, começa a atuar. Pediatras avaliam o equilíbrio sistêmico, fonoaudiólogos trabalham a sucção e a odontopediatria foca em procedimentos preventivos e educação alimentar.
O protesista pode confeccionar uma placa acrílica para vedar a fissura e facilitar a alimentação. Terapeutas ocupacionais e nutricionistas também ajudam, ensinando técnicas para a alimentação do bebê.
6º ao 12º mês: Avalia-se a saúde do bebê para a realização da queiloplastia pelo cirurgião-plástico. Entre o 1º ano e o 15º mês, realiza-se a palatoplastia.
Até 5 anos: A criança continua sob acompanhamento da equipe multidisciplinar, que inclui pediatras, psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas, periodontistas, odontopediatras, ortodontistas, protesistas, enfermeiros, otorrinolaringologistas e cirurgiões para refinamento.
7 a 8 anos: O paciente passa por tratamento preventivo na dentadura mista. Até os 9 anos, ocorre o crescimento craniofacial e é realizado o enxerto ósseo secundário.
9 a 16 anos: Realiza-se o tratamento corretivo ortodôntico. Entre 13 e 18 anos, se necessário, realiza-se a cirurgia ortognática.
Atuação do cirurgião-dentista
A atuação do cirurgião-dentista é fundamental no tratamento de pacientes com fissura labiopalatina, uma vez que a anomalia ocorre na região da face, área de estudo da odontologia. O dentista deve acompanhar o paciente desde os primeiros meses de vida até a fase adulta jovem.
Pacientes fissurados enfrentam diversas alterações decorrentes da fissura labiopalatina, necessitando de tratamento odontológico por diferentes especialistas para prevenir e corrigir manifestações indesejadas. De acordo com o artigo “A ortodontia na atenção multidisciplinar na saúde do paciente fissurado”, as fissuras afetam o desenvolvimento dos dentes decíduos e permanentes, podendo ocorrer ausência congênita de dentes e presença de dentes supranumerários.
Além disso, podem surgir microdentes, erupção dentária ectópica, dentes natais, neonatais e intranasais, atraso na erupção e na formação dentária. É comum também encontrar anodontia entre as anomalias.
Essas ocorrências frequentemente resultam em más oclusões, mordidas cruzadas anterior e posterior na dentadura decídua. Doenças de cáries e periodontais também são consequências comuns.
Portanto, o cirurgião-dentista deve estar atualizado sobre as novidades e tecnologias para proporcionar melhor qualidade de vida aos pacientes. A abordagem odontológica deve começar o mais cedo possível para garantir um tratamento eficaz e abrangente.
Abordagem pela odontopediatria
A odontopediatria desempenha um papel crucial na abordagem de pacientes com fissura labiopalatina, focando principalmente na manutenção, estabelecimento e preservação da saúde bucal desde os primeiros meses de vida. A atenção precoce educativa-preventiva é essencial para evitar complicações futuras.
Uma das principais responsabilidades do odontopediatra é a prevenção de problemas como gengivite, que podem surgir devido à fissura. Além disso, o profissional deve garantir a preservação do osso na área da fissura, reduzindo riscos de infecções e problemas no pós-operatório.
Outro aspecto importante é a orientação aos pais sobre a higiene bucal e a alimentação adequada, promovendo hábitos saudáveis que beneficiarão o desenvolvimento oral do paciente. O odontopediatra também deve estar preparado para lidar com as necessidades emocionais e psicossociais da criança, proporcionando um ambiente de tratamento acolhedor e seguro.
Em suma, a atuação da odontopediatria é vital para o sucesso do tratamento multidisciplinar, garantindo que a criança cresça com uma saúde bucal adequada e minimizando os impactos da fissura labiopalatina no seu desenvolvimento geral.
Conclusão
Concluindo, o tratamento da fissura labiopalatina envolve uma abordagem multidisciplinar essencial para garantir o bem-estar e a qualidade de vida do paciente.
Desde o nascimento até a fase adulta, o acompanhamento por diversos profissionais, como pediatras, fonoaudiólogos, cirurgiões-dentistas e outros especialistas, é fundamental para abordar as complexidades dessa condição.
A atuação do cirurgião-dentista é crucial, pois a fissura afeta diretamente a região facial, necessitando de intervenções odontológicas desde cedo para prevenir e corrigir anomalias dentárias e maxilofaciais.
A odontopediatria, em particular, desempenha um papel vital na manutenção da saúde bucal e na educação preventiva, garantindo que o paciente cresça com o menor impacto possível da fissura.
Com um tratamento bem estruturado e contínuo, é possível não apenas corrigir as deformidades físicas, mas também proporcionar uma melhor integração social e emocional ao paciente.
Portanto, é imprescindível que os profissionais da saúde se mantenham atualizados sobre as melhores práticas e tecnologias disponíveis, assegurando um tratamento eficaz e humanizado para aqueles que enfrentam essa condição desafiadora.
FAQ – Perguntas frequentes sobre fissura labiopalatina e odontologia
O que é fissura labiopalatina?
É uma malformação congênita comum na face, caracterizada pela falta de fusão entre o lábio e o palato, afetando a aparência e a função oral.
Como a odontologia atua no tratamento da fissura labiopalatina?
A odontologia é essencial no tratamento, com dentistas acompanhando o paciente desde cedo para prevenir e corrigir anomalias dentárias.
Quais são os fatores que contribuem para a fissura labiopalatina?
Fatores genéticos, ambientais e múltiplos, como histórico familiar, infecções e exposição a substâncias, podem contribuir para a condição.
Qual é a importância de um tratamento multidisciplinar para fissura labiopalatina?
O tratamento multidisciplinar é crucial para abordar todas as necessidades do paciente, garantindo resultados funcionais e estéticos adequados.
Como a odontopediatria ajuda no tratamento da fissura labiopalatina?
A odontopediatria foca na prevenção e manutenção da saúde bucal desde cedo, evitando complicações futuras e orientando os pais.
Quais são as etapas do tratamento da fissura labiopalatina?
O tratamento é dividido em pré-cirúrgico, cirúrgico e pós-cirúrgico, com acompanhamento contínuo por uma equipe de saúde multidisciplinar.